Salto Angelo na Venezuela

Inicialmente eu subiria o Monte Roraima, mas como roteiro adicional apareceu a oportunidade de conhecer Salto Ângelo, é difícil explicar como me senti ao ouvir o nome que conhecia desde criança, mas havia meio que esquecido, pois nas primeiras pesquisas que havia feito eu havia considerado um local de difícil acesso. 
 
Para os que me visitam aqui mas desconhecem o que representa esse lugar, Salto Ângelo é a MAIOR cachoeira do mundo, mais de 1000 metros de queda, localizada praticamente no meio da Venezuela (geograficamente falando), em uma região de muita mata, pra complicar um pouco a região entre Brasil e Salto Angelo é repleta de reservas indígenas fortemente controladas pelo exercito venezuelano, e o local em si praticamente não tem infra estrutura, embora tenhamos nos hospedado há um dia de distância no Rio em um agradável centro de recepção turística. Somente a noite de visita a cachoeira exigiu o dormir em redes de floresta.
 
O roteiro começou em Boa Vista, Roraima, de carro fomos até Santa Elena de Uairen onde um aeroporto não muito convincente nos esperava, havia alguma estrutura, mas era minúsculo, inclusive a pista. Em um monomotor (que por mim deveria ser mono passageiro também) embarcamos, 4 pessoas, certamente minha reserva de Dramim se consumiu no tempo de voo, não posso dizer que foi uma experiência gratificante, mas acreditávamos ser a única opção, pelo menos até chegarmos ao centro de recepção turística previsto, onde vimos outros turistas chegando em um confortável avião pequeno para cerca de 40 pessoas vindo de Caracas, foi decepcionante.
 
O centro turístico era agradável, grande e bem organizado possuía um pequeno comércio, boas instalações, até uma igrejinha, mas claro, nada de luz elétrica, então aproveitamos o sol para circular um pouco, uma praia de lago bastante interessante foi descoberta, estava deserta.
 
Ao longe alguns Tapuis mostravam a direção que seguiríamos no dia seguinte, que começou com uma caminhada leve antes de chegarmos a uma voadeira longa, bem longa, e assim com cerca de 10 pessoas por barco seguimos rio acima por muitas horas, vez ou outra era necessário descer do barco por assoreamentos do rio, mas não incomodava, ao todo a etapa durou 10 horas e foi bastante gratificante chegar ao acampamento.
 
A janta foi um momento de descontração grande, pessoas de vários países, vários idiomas se misturavam de forma muito harmônica, comemos frango, assado em fogueiras, mas claramente todos ali estavam bastante empolgados por estarem onde estavam, e isso fazia tudo ficar bom demais.
 
Dormimos muito bem, redes de selva com mosquiteiros, ao som da cachoeira e exaustos da jornda pelo rio, dificilmente se dorme mal nesse estado, não é?
 
Logo cedo enfrentamos outra trilha leve e pronto, estávamos na base de Salto Ângelo, a cachoeira imponente parecia não ter fim quando vista de baixo, mas oferecia uma piscina natural muito agradável onde ficamos por poucas horas, e pronto, hora de voltar.
 
A volta seguiu o mesmo roteiro, voadeira por horas com pequenos portages, mas agora no sentido do rio ganhamos algumas horas e chegamos ao centro turístico ao final do dia, valeu a pena cada hora, sonho realizado eu pensava. Esta também seria a última noite na Venezuela, na manhã seguinte já retornaríamos ao Brasil.
 
A volta pro Brasil, infelizmente, se daria pelo mesmo roteiro do monomotor, agora om um agravante, o passageiro extra mudou, agora era um padre missionário, e ele pediu para fazer algumas paradas, que concordamos sem problemas. Ele precisava levar alguma coisas de uma aldeia pra outra em nosso roteiro, a primeira parada foi tranquila, até descemos para conhecer a aldeia, mas a segunda foi desagradável, soldados fortemente armados cercaram o avião e nos avisaram para permanecer a bordo, considerando que aquela aldeia era de acesso restrito, obedecemos calmamente, claro.
 
Chegamos a Santa Elena de Uairen já noite, lembro pouco depois que entrei no transfer, dopado pelo dramim, dormi até Boa Vista.