O roteiro era bem simples e tranquilo pra um fim de semana, fomos de trem até próximo da fronteira com a Áustria, caminhar o dia todo até uma berghaus (albergue de montanha), dormir e festejar por lá, no dia seguinte, para os que quisessem seguir pela montanha até a Áustria, onde havia uma estrutura melhor, um teleférico que estaria parado pois só era ativo durante a estação de ski. Nesse segundo dia passaríamos próximo do Zugspitze, ponto mais alto da Alemanha, tudo parecia bem interessante.
Eu me sentia renovado em colocar uma pequena mochila nas costas, não precisava levar comida, mas roupa de frio e um bom saco de dormir garantiam o volume mínimo pra me sentir com uma mochila cargueira 😃 . No albergue não haviam quartos, era uma estrutura bastante grande pro local que foi erguida, mas se limitava a dois amplos andares abertos, grandes salões, na parte de cima cada um dormia onde conseguisse estender seu saco de dormir, na parte de baixo uma cozinha pequena e mesas rusticas grandes, onde todos se sentavam aleatoriamente, haviam alguns disputados sofás também onde a conversa podia ser mais tranquila.
A diversão ia além da beleza do lugar, que era fantástico e desejado, afinal quem não gostaria de caminhar pelos alpes, mas a incrível diversidade dos participantes prometia muitas situações inesperadas, muitos insights e mais que bons momentos, na lista com quase 50 pessoas não haviam 5 de um mesmo país, haviam alemães, russos, franceses, italianos, japoneses, suecos, finlandeses, poloneses, americanos, sul africanos, suíços, espanhóis e ingleses, além de mim, brasileiro, a comunicação era parte em inglês, parte em alemão e os guias se esforçaram pra não deixar que os grupos se isolassem em subgrupos regionais.
Cada grupo tinha sua mania, claro, era curioso ver que os alemães carregavam mais cerveja que roupas, os japoneses levaram muita água, comida e até remédio para disenteria, alardearam que a comida na região era muito difícil pra eles, os italianos eram os mais animados e apressados, mas quase que não curtiam a paisagem, perguntavam regularmente se faltava muito pro albergue e depois da resposta disparavam na frente do grupo, e assim foram 6 horas caminhando montanha acima.
O Albergue era fantástico, construído em frente a um paredão o telhado vermelho chamava bastante a atenção ao longe, não oferecia muitas modernidades, mas era muito acolhedor.
A noite o cardápio surpreendeu, visto que nem luz havia no albergue, tudo que estava lá era levado no lombo de cavalos, mas comida alemã típica, como muita carne de porco e batatas, além da couve de Bruxelas (que até hoje não entendo como eles gostam disso, mas é bem popular).
Durante o jantar todos bebemos o suficiente pra compensar o frio, animados, os italianos cantavam sem parar, alguns se arriscavam fora do albergue pra apreciar a noite limpa, cheia de estrelas e não muito escura (só estava meio frio 😃 ), o que me permitiu arriscar algumas fotos quase a meia noite, mas o ponto alto pra mim nesse dia ocorreu quando já nos preparávamos pra dormir, os japoneses tiveram um ataque de asma, precisando até de remédios quando duas finlandesas resolveram se trocar no quarto, sem qualquer problema elas se despiram, vestiram seus pijamas e entraram no saco de dormir, tudo aconteceu tranquilamente em menos de 2 minutos, mas foi suficiente pros japoneses entrarem na tal crise de ansiedade, as meninas nem perceberam o que aconteceu até alguém contar a elas, pedindo que tomassem mais cuidado, em um ambiente de tantas culturas é necessário alguma cautela repetiam nos russos 😃 .
Amanheceu com uma nevasca chata que atrasou nossa saída por horas, além de espantar metade do grupo que resolveu voltar pelo mesmo caminho do dia anterior, apenas 11 seguiram para a Áustria, e confesso que andar em neve fofa foi bem desgastante pra mim na primeira hora de caminhada, mas gostei muito e o lugar dispensava muitos elogios, quando me acostumei finalmente com a neve a caminhada foi bem tranquila, chegamos ao tal teleférico no meio da tarde, e lá eu estava mais energizado que quando sai de casa no dia anterior certamente.