A Travessia da Serra dos órgãos, entre Petrópolis e Teresópolis no Rio de Janeiro é uma trilha clássica pra todos que desejaram caminhar por montanhas no Brasil, também pra quem gosta de alpinismo, mas essa não é minha praia, voltemos a trilha, o parque nacional ficou fechado por alguns anos e até fui preso com alguns amigos por invadir o mesmo e fazer a trilha (por sorte ou bondade dos guardas nos prenderam na saída, esse fato foi na primeira vez que fiz a travessia por lá e até hoje acho que nos liberaram por termos recolhido muito lixo na trilha, estava tudo na mochila pra provar, e foi meio que involuntário, mas de fato dessa experiência nem fotos tenho, então se tornou uma lenda.
Voltei pra serra dos órgãos mais duas vezes, uma foi bem tranquila, mas a outra me rendeu ótimas histórias, e que fique anotado, ótimas porque passamos ilesos por elas felizmente.
Fomos em um grupo meio que inexperiente, eu mesmo não tentava a travessia lá há 10 anos, agora tudo seria oficial, parque aberto, eu já tinha equipamentos melhores e o grupo parecia bem disposto a encarar a travessia, já havíamos feito outros roteiros, como a travessia da Serra da Bocaina, a diferença estava no terreno, entrando por Petrópolis a Serra dos Órgãos impõe uma subida forte, são uns 1000 metros de desnível, a subida é daquelas que não terminam jamais, o sol mostrava sua presença e claro, inexperientes, bobeamos no tempo de subida, o que pra essa travessia é um erro bem crítico.
No alto da subida há um trecho perigoso antes de chegar na Pedra do Açú, ponto de acampamento e de fotos (a pedra me impressiona até hoje quando vejo as fotos), nesse trecho que parecia plano haviam desníveis constantes, fáceis de provocar torções, ele também não é muito largo, qualquer desvio mais abusado leva a desfiladeiros de ambos os lados e pra piorar é necessário passar ao lado da Pedra da Cruz, local que atrai raios com frequência, e tem esse nome graças a cruz lá existente, que marca a morte de alguém se não me engano, enfim, o final do primeiro dia tem tudo pra ser tenso se não atentar ao tempo, passar pelo trecho perigoso a noite é um risco bastante alto.
Nem preciso dizer que anoiteceu quando chegamos ao topo, e pra piorar, começou a chover, trovejar, etc, chegar ao Açu se tornou arriscado demais, mas antes desse ponto não havia onde abastecer os cantis, portanto não havia como cozinhar, e onde estávamos a possibilidade de montar as barracas com segurança pra enfrentar a chuva era quase impossível, mas felizmente o bom senso venceu, acampamos como deu, não jantamos e “dormimos” encharcados, foi tenso.
Logo cedo no dia seguinte transferimos tudo pro Açú, a agenda previa um dia por lá e o sol ajudou a secar tudo, ao final desse segundo dia o fantástico pôr do sol já havia apagado qualquer lembrança da noite anterior, todos estávamos fascinados.
O terceiro dia tem as paisagens mais famosas, ao longe se observa a Pedra do Garrafão e o Pico do Dedo de Deus ao lado da Pedra do Sino, todos muito frequentados por alpinistas,
Acordamos cedo e seguimos em direção a pedra do Sino, próximo ponto de acampamento, a trilha é fácil, embora com muitos desníveis, não há grandes dificuldades, agora calejados todos andaram com bastante motivação e chegamos cedo ao Sino, o que foi muito bom, uma tempestade se aproximava e a nova surpresa foi ver ela se aproximar, estávamos na mesma altura das nuvens, e quando elas chegaram ao sino formaram uma espécie de manta sobre ele, há poucos metros de nossas cabeças, eu nunca havia passado por nada semelhante, sentados ali naquele platô ver a tempestade passar por nós.
O quarto dia fi só passeio, descer do Sino até a parte baixa do parque em Teresópolis pela trilha mais usada do parque, larga e sinalizada, tudo muito tranquilo, chegamos antes do almoço na pousada em Teresópolis, até arriscamos um passeio pela feirinha da cidade, afinal era um domingo!