No dia a dia

O I Ching e o Taoismo

I Ching
Não me recordo exatamente as datas, mas eu era adolescente quando meu pai ganhou e leu um livro que me atraiu. Quando olhava para a estante era como se só ele existisse, tentei folear, ler alguma coisa nele, etc, mas não funcionou, talvez não fosse a hora, então o tal livro se tornou quase que um amuleto pra mim por anos, sai de casa, morei em algumas cidades, mas sempre que decidia o que me acompanharia o I Ching era escolhido, sem qualquer questionamento meu a seguir comigo.
Quase uma década depois estava na casa de uma namorada quando sobre a mesa de centro na sala um panfleto da Livraria Arjuna anunciava grupos de estudos em diversos temas, e dentre eles o I Ching, certamente havia chegada a hora de eu entender um pouco mais daquele sentimento que tinha (e tenho) pelo livro, e assim começaram meus estudos no I Ching e no Taoísmo.
Era 2004, o Grupo na Arjuna era orientado pelo Roberto Otsu, desde o primeiro encontro o interesse no texto só aumentou, primeiramente como uma ferramenta fantástica de autoconhecimento, depois fui me encontrando no Taoísmo, e isso orienta minha vida atualmente, mesmo que muitos vícios de minha criação tenham lutado bastante para permanecer nas minhas atitudes  fui aos poucos, com paciência e insistência, substituindo os mesmos, fazendo escolhas no caminho mais próximas de um olhar taoista, sem me apegar ao aspecto religioso, mas como filosofia de vida que flui melhor no que quero para minha vida.
Os anos se passaram, a Arjuna mudou de endereço e até saiu de São Paulo (pena, tenho saudades), os encontros do grupo já mudaram de endereço algumas vezes, sem falar dos participantes, nem sei dizer quantos entraram e saíram nesse tempo todo, ou quantas vezes li e reli cada trecho do livro. O Roberto escreveu alguns livros, entre eles um que eu recomendo a todos o “Sabedoria da Natureza”, eu procurei me informar mais sobre algumas religiões próximas do Taoismo, como o Budismo, até escolhi destinos de minhas viagens para conhecer nações Budistas, mas continuo no grupo de estudos, costumo dizer que é minha terapia, mas de fato me parece ser uma fonte de aprendizado concentrado e sem limites, pois cada pessoa nova lá traz sua história, suas necessidades, vê no texto de outra forma e o conhecimento parece se ampliar sobre o tema.
O I Ching é um livro milenar, sem data exata de publicação estima-se algo em torno dos 5 a 6 mil anos, a lenda conta que teria surgido do conhecimento popular, também a partir de jogos envolvendo cascos de tartaruga, iguaria apreciada na china antiga, mas foi compilado por um imperador chinês, o Rei Wen que deu estrutura ao texto. Antes de chegar ao nosso conhecimento ocidental foi estudado e comentado por Confúcio, que declarou o texto como sagrado, junto a outros 4 livros somente.
O nome I CHING significa livro sagrado das Mutações, Ching, ou King, ou Jing, são todos a mesma palavra: “sagrado”,  “I” significa mutação e junto com o Tao Te King são os textos que mais admiro atualmente.
O livro se baseia em observações da natureza, como ela se comporta perante algumas situações típicas que passamos, e considerando que nós seres humanos somos parte da natureza (e não superiores a ela como alguns tolos insistem), é natural que nosso comportamento mais adequado seja semelhante ao da natureza, mas não natureza bruta, a natureza plena em virtude e sabedoria.
Acredito que a sabedoria está em nos alinharmos ao que pertencemos, que a confiança está na clareza do caminho que escolhemos, e o conforto na simplicidade necessária para isso.
Para nós ocidentais uma tradução do início do século 20 ganhou fama e respeito, feita por um ex-missionário católico, Richard Wilheim, inicialmente em alemão depois de passar mais de uma década na China estudando o texto. Hoje outras traduções ganharam também nosso respeito, e observando a quantidade de idiomas que esses textos ganham traduções é fato que cativam muitos mundo afora, felizmente.
Não tenho palavras pra agradecer a todos que me acompanharam e ajudaram nessa jornada, nem consigo explicar o que esse conhecimento no qual apenas engatinho já trouxe para mim como ser humano, mas tenho a certeza que todos deveriam procurar um caminho que consiga trazer clareza a sua vida, a recompensa é única.
Recomendações:

O Tarô

Em um certo momento comecei a reconhecer os ensinamentos do I Ching em textos que eu havia buscado por curiosidade, outras ferramentas de autoconhecimento com base em símbolos, mas símbolos diferentes dos vistos na natureza despertaram minha vontade de estudar outros oráculos. Busquei então um que tratasse símbolos mais próximos de minha vida em cidades, queria aproximar o meu dia a dia ao que estava se sedimentando como aprendizado enquanto eu me desenvolvia, assim conheci o Tarô, inicialmente com o curso básico da Idha Gamberini na Casa Arjuna.
Definitivamente meu aprendizado se faz pela observação, hoje me entendo como uma pessoa visual, eu já deveria ter desconfiado disso quando a fotografia entrou na minha vida e se tornou muito rapidamente parte importante dela, mas depois a vida me trouxe o I Ching, cujos textos se baseiam em arquétipos e eu os vejo muitas vezes como imagens, entretanto, foram os símbolos das cartas do Tarô que colocaram a clareza completa sobre alguns pontos em minha busca, cada detalhe, cor ou quantidade envolvida nos símbolos se mostrou presente muitas vezes no meu dia a dia.
A maneira que o Tarô mostra e liga os conhecimentos a cada situação (as cartas) me ajudou também a colocar os pés na realidade, felizmente a expectativa de uma simbologia mais próxima da vida nas cidades se confirmou, foi perceber os símbolos em situações do meu cotidiano que eliminaram as arestas, paradigmas taoístas que eu ainda resistia a incorporar no meu cotidiano se alinharam facilmente a ele, ciclos, arquétipos e sequências, se reforçavam nas cartas.
Os arcanos maiores também retratam características da sociedade sem rodeio, me ajudando a conhece-las de forma mais profunda, apoiando minhas escolhas de forma mais segura.
Sem dúvida as semelhanças processuais desses dois oráculos, o I Ching e o Tarô promoveram um reforço dos meus valores, com isso minha vida ganhou simplicidade e fluidez, serenidade, o horizonte ficou maior, e minha inquietação, menor.