Amsterdam na Holanda

Cheguei de trem pela manhã, era auge do inverno o que não limitava em nada a presença turística na cidade, eu não havia conseguido reservar o albergue pois estava lotado, mas me recomendaram procurar pequenas pousadas na parte alta da cidade, próximo a estação de trens, eram mais baratas, estavam próximas da área mais animada da cidade e tinham menos restrições, certamente não me arrependeria.
Foi fácil encontrar um lugar interessante e logo veio a primeira surpresa, as escadas do sobrado eram incrivelmente íngremes, subir se assemelhava a uma escalada e lembro de pensar que teria problemas para descer se acabasse bebendo demais algum dia, mas não tive problemas 😃 
Logo cedo sai para rodar pela cidade, eu tinha preparado um circuito longo, que incluía parques, prédios históricos, praças e museus, e se estendia noite adentro para conhecer atrações como a rua da luz vermelha, pubs e cafés.
 Caminhando não demorei muito pra entender como a cidade funcionava, largos canais ainda definiam tudo por lá, a tradição da Holanda era navegar, e em Amsterdam era possível se chegar de barco a boa parte da cidade pelos canais, claro que haviam ônibus e bondes, aliás muito coloridos e isso os destacava demais no pálido inverno, mas a parte mais interessante da cidade era pequena e andar me parecia muito mais interessante.
As experiências inusitadas começaram desde meus primeiros minutos andando, em uma cidade cosmopolita eu percebia gente de todo tipo nas ruas, os holandeses eram bem fáceis de achar nos grupos, quase em minoria, mas também por serem muito altos em geral, homens e mulheres, as casas pareciam se apoiar uma nas outras, pois pareciam mais finas que o que eu considerava normal, o que as fazia aparentar mais altas também, mas a grande maioria não passava dos 4 andares na parte histórica.
Havia muitos músicos nas ruas, disputavam espaços, poucos vendedores ambulantes, mas um exagero de traficantes, mal se caminhava 10 passos até que alguém te abordasse oferecendo as drogas não liberadas em coffe shops, se limitavam a falar o cardápio rapidamente enquanto procuravam por policiais no entorno, qualquer sinal de fiscalização provocava o desaparecimento instantâneo da pessoa, alguns nem terminavam o cardápio…
Nos museus que visitei percebi muita arte local, diferente de museus em outros países que visitei os holandeses mostram arte holandesa e só praticamente, mas a cidade tem bastante história pra contar, em particular foi interessante visitar a casa da Anne Frank e ver lugares descritos no livro.
Na primeira noite junto com novos amigos da pousada acabei fazendo um tour por pubs, coffes e coffe shops, foi a primeira vez que vi um narguilé, também a primeira vez que vi vitrines exibindo gente. Alguns insights sobre oferta e demanda e até sobre aceitação foram bem importantes nessa noite.
No fim da madrugada experimentamos uma inusitada lanchonete automática, eram dezenas de box com combinados simples, como lanches e pequenos doces, bastavam algumas moedas para se obter comida e há qualquer hora, com pouca fome acabei com alguns bolinhos sobrando e entreguei a alguns músicos no caminho de retorno a pousada, isso me marcou bastante, não por ter entregue mas pela gratidão deles, durante toda minha estada lá esses músicos fizeram festa todos os dias que passei por eles, não se esqueceram sequer meu nome, digamos que eu talvez tenha experimentado alguma popularidade com isso, naquele momento me fez bem. (e foram só uns bolinhos!!!)
Os passeios se repetiram nos dias seguintes, não os mesmos lugares, mas os mesmos temas, mas foi no último dia que percebi o quanto os holandeses eram maduros como cidadãos, e precisei apenas pegar um ônibus.
Com novos amigos holandeses veio a sugestão de visitar um parque um pouco mais afastado do centro histórico, precisaríamos de ônibus, e lá fomos nós, ao entrar no mesmo não havia cobradores nem catraca, e sem me precaver eu não tinha o troco para a passagem, minha colega rapidamente se ofereceu pra pagar a passagem e assim foi.
Durante a viagem eu questionei o que aconteceria se eu não pagasse e a resposta foi simples, “na volta você pagaria, no parque trocaríamos o dinheiro”, mas insisti em saber se havia fiscalização e a resposta foi negativa, mais que isso, ela mostrou muita dificuldade em entender porque alguém não pagaria a passagem, afinal estava usando o transporte, era confortável e barato, porque não pagar? Não consegui explicar, e mais importante, aprendi um pouco mais sobre cidadania.