Muito se discute hoje a atitude “esperta”, e desprezível, de procurar espaço para levar vantagem em tudo que se faz, podemos encontrar os mais variados exemplos em muitos temas, como aquelas pessoas que estacionam em vagas reservadas para idosos ou deficientes, ou ainda quem corta pelo acostamento para depois atrapalhar a fluidez do transito e “ganhar” alguns poucos metros ou segundos de viagem.
Podemos ver também em qualquer canto pessoas que furam filas, que mentem para confundir, que em geral usam artifícios dos mais variados para vencer a resistência que as pessoas tem naturalmente quando lá no fundo sentem o dissabor de algo.
Isso talvez nos incomode tanto porque “Sabor” em sua origem vem de “saber”, esse sentido ainda mais que os outros sentidos exige um contato bastante intimo com aquilo que é avaliado, mas reconhecemos o sabor de algo quando este já se encontra dentro de nós, dentro de nossa boca, o prefixo “dis-” reforça que aquilo não está funcionando como esperávamos, há a quebra de expectativa.
Aqui a sutileza que nem sempre percebemos, esperamos o melhor das pessoas, que sejam éticas, sigam as regras de convivência estabelecidas para o bem da sociedade, que respeitem as pessoas que estão a sua volta pelo simples fato de serem pessoas, e portanto terem necessidades e expectativas.
A ética varia com o tempo e depende sempre das necessidades de uma sociedade, são regras estabelecidas pelo bom senso popular que em casos extremos podem se tornar leis, mas é triste pensar que há na sociedade pessoas tão limitadas que precisam de leis para visualizar as regras básicas estabelecidas. Sempre me questiono se é melhor punir essas pessoas que tem sérios problemas de aprendizado ou se seria melhor criar escolas especiais para ensinar essas pessoas as regras básicas compreendidas pela maior parte de nós.
As vezes me parece que essas escolas não precisariam ensinar muito, as pessoas que não seguem a ética de seu tempo, na maioria das vezes, conhece as regras, essas “escolas” apenas teriam o papel de expor essas pessoas, tomar tempo de suas vidas, tempo hoje costuma ser um artigo de luxo, e claro, incomodariam muito, pois todos sabemos o quanto é ruim permanecer em uma sala de aula quando a matéria já é de nosso domínio.
Agora, se a opção da sociedade é punir, que seja exemplar, que as pessoas tenham medo de sofrer as consequências de seus atos, quando a punição não desperta o sentimento de que podemos perder algo, ela é desprezada. Mas falar de medos e perdas é algo que merecerá talvez um post em uma próxima ocasião.
Então qual seria a atitude simples que poderia orientar nosso caminho? Provavelmente uma não seja suficiente, mas já seria um começo, pensem comigo, há um texto que praticamente todos conhecemos, é bem antigo, 🙂 mas traz uma atitude que pode ser considerada em falta atualmente logo nos primeiros versos:
“Pai nosso, que estás nos céus, […] Venha a nós o Vosso Reino. Seja feita a Vossa vontade […]”
O que gosto nesse texto é a direção que as palavras mostram, direção no sentido de para onde se vai, observem que se faz um pedido “venha a nós o Vosso Reino” que representa o sentimento de um reino melhor do que aquele que temos, melhor que o Nosso Reino, a Nossa Humanidade, e para tal o verso seguinte oferece algo, aceita algo, “seja feita a Vossa vontade”, e reforço aqui que não se diz seja feita a nossa vontade, nem nosso desejo…
Independente do contexto religioso, e o texto se refere a isto logo no começo para mostrar a que se refere, aqui há uma mensagem importante, que quando queremos algo que não nos pertence, precisamos aceitar as regras e vontades daquele a qual esse algo pertence. Assim, se queremos respeito alheio precisamos aceitar as vontades alheias, e não mudar as regras para seguirem nossas vontades e ainda nos cederem o que já conquistaram com esforço.
Voltando ao começo desse meu post, imaginem se aqueles que furam as filas entendessem que para ser aceitos na fila precisariam seguir as regras de quem já está na fila, se quisessem pertencerem a um grupo, uma sociedade, precisariam seguir as vontades dessa sociedade, enfim, sempre teremos a escolha de não pertencer ao grupo, mas para pertencer não é a nossa vontade que tem importância, nem prevalece sobre qualquer outra é a de outras pessoas, concordemos com eles ou não.
Para entender a vontade de outros precisaremos de tempo, claro, e a medida que pensamos em cada uma de nossas atitudes diminuiremos nosso comportamento de máquina, contribuindo para uma sociedade melhor, cada um com um pouquinho, como as formiguinhas, as abelhas, etc, com sorte nos tornaremos tão eficientes quantos essas sociedades e como seres pensantes poderemos então, finalmente, evoluir.
A atitude de querer sempre nossas regras prevalecendo demonstra um egoísmo exagerado, já comentei dessa doença do ego em outros posts aqui no blog, mas como toda doença, quando exagerada acaba por se tornar uma epidemia, e nestas situações não bastam as ações do governo (que por obrigação orienta a sociedade), é necessário que todos contribuam para evitar que a doença se alastre, impedir que nos domine, só com a participação de todos teremos uma sociedade saudável.
Para finalizar convido você também a participar, fazer sua parte para uma sociedade melhor, deixe claro para quem tem a atitude egoísta que você, como cidadão não concorda com ela, mesmo que não tenha coragem para enfrentar os egoistas, mostre que não concorda com eles, você não imagina a força que a opinião ética tem.
E desejo a todos uma ótima semana, essa em que o Natal se aproxima, você talvez encontre tempo pra pensar o quão importante são as nossas vontades em meio as vontades dos “vossos” com quem convivemos e admiramos.
Abraço a todos,
Omar





