Paris na França

Cheguei a noite em Paris e a distância do aeroporto que escolhi para a cidade não ajudava, optei por tomar um ônibus em vez do taxi e mais uma horinha se foi entre o transporte e eu achar o albergue, que por sorte contava com um bar e por isso não fechava as portas, já passava da meia noite quando consegui fazer o checkin.
Pretendia ficar 2 semanas na cidade, como meu voo para o Brasil saia de Paris eu certamente conheceria a cidade, mas fiz uma programação de uma semana apenas, alguns contratempos para entrar na França me levaram a deixar muito tempo de margem no roteiro, acabou sendo bem positivo.
O Albergue estava bem cheio e boa parte dos turistas era de brasileiros, logo na manhã seguinte conheci alguns grupos e acabei optando por ajustar meu roteiro a um deles, naquele momento eu sentia uma certa saudade do Brasil e de falar português também, o roteiro não era muito diferente do que pretendia, apenas incluía uma visita ao cemitério, mas era bem próximo ao albergue então mal influenciava o tempo.
Você talvez se pergunte porque visitar o cemitério, pois bem, para quem nunca pesquisou por atrações turísticas nessa cidade talvez se surpreenda que há lá um cemitério onde várias pessoas famosas estão enterradas, a visitação de fãs e curiosos é tão intensa que há tours com horários específicos por uma série desses túmulos, incluindo guias, na verdade eu não me encaixava nesses perfis não, geralmente gosto das obras de algumas pessoas, não me atento muito as pessoas em si, mas foi divertido o passeio.
Nos dias seguintes a lista continuou por museus como o Louvre, o Pompidou (que achei mais charmoso que o Louvre), monumentos famosos como o Arco do Triunfo e a Torre Eiffel, e também a Notre Dame, tudo muito interessante, mas andar pela cidade era mais agradável que o roteiro, a cidade é ampla na sua parte histórica, avenidas, praças, e esculturas enormes surgem após pequenos becos, e não estava nevando 😃  muito diferente de algumas cidades que eu visitara recentemente.
Andar me animou tanto que ao avistar o Arco do Triunfo de um dos pontos mais afastados que visitei, a cidade nova, resolvi voltar a pé, acredito que forma uns 5km atravessando bairros menos conhecidos, vendo a vida real na cidade, foi bem agradável.
Nos últimos dias em Paris meus primos recém conhecidos (veja a página sobre o Mont Saint Michel na Bretanha para saber sobre os novos primos), se ofereceram pra me levar a Versalhes, foi muito legal da parte deles, o famoso castelo ficava um pouco afastado de Paris e seria muito mais confortável ir com eles.
Versalhes é um Castelo enorme e famoso, claro, mas talvez sua principal atração sejam os jardins, como estávamos no final do inverno os jardins estavam meio se graça 😃 se eu tivesse ido por conta própria talvez o passeio nem me trouxesse tão boas recordações, mas como a sorte me acompanha…
Meu novo primo era francês de nascença, mas morou por muitos anos no Brasil e falava português perfeitamente, ele também tinha um vasto conhecimento do castelo de Versalhes pra minha surpresa, então eu tive o privilégio de um guia particular em português durante toda a visita, ouvi com prazer histórias detalhadas sobre a arquitetura, os bailes e o jogo de poder envolvido na época áurea daquele lugar, com datas, nomes e até algumas lendas, não poderia ser melhor.
A história mais marcante foi uma dessas lendas, envolve o magnífico e rebuscado salão dos espelhos e o jardim que sem flores 😃  não lembro qual dos reis com nome “Luís” em questão estava destacado na história, nem porque gostei tanto dela, mas me vou descrevê-la pra vocês.
Conta a lenda que no auge da Idade de ouro árabe, quando eles dominavam a Espanha e patrocinavam com generosidade a busca pelo conhecimento além de ensinarem aos europeus coisas básicas, como o conceito de zero, o rei francês estava bastante preocupado com tal potência bélica bem ali no pais vizinho e resolveu no melhor da tradição da corte por uma ação diplomática.
Surgiu então um convite para que o Rei árabe visitasse Versalhes, a expectativa do rei francês era impressionar o visitante com a sofisticação e grandeza do palácio, e talvez com isso firmar uma aliança que o mantivesse longe das terras francesas. Pouco tempo depois a visita foi aceita e agendada.
Com uma grande comitiva o rei árabe chegou a Versalhes em um belo dia, passeou pelos jardins e acompanhou o rei francês para conhecer o palácio mais detalhadamente, de salão em salão a arquitetura e grandeza da França era reforçada até que chegaram ao ponto alto do tour, a sala dos espelhos, Luís certamente esperava uma certa reverência do rei árabe ao que até hoje é considerado muito belo, mas não ocorreu, o visitante de forma calma e sem cerimônia perguntou ao anfitrião se na França não haviam artesões habilidosos o suficiente para decorar o salão, criando um forte constrangimento.
De fato, sabemos que palácios árabes costumam ser decorados de forma preciosa, arabescos dos mais variados preenchem paredes dentro e fora, cada pedacinho delas, muitas cores e sofisticação sempre estão presentes. Comparado ao estilo rococó, rebuscado e pesado (demais) no dourado que domina Versalhes, pode deixar a impressão que o palácio francês é simplório.
Não há dúvida que a ação do anfitrião não foi muito bem sucedida, outros esforços forma necessários para que o tal acordo surgisse, no final tudo deu certo, mas fica claro que o valor que Luís dava a seu palácio era superestimado, como sempre superestimamos nossa criações, como também era superestimado a capacidade diplomática do tal rei árabe, ele era sincero demais!
Espero que curta as fotos que separei abaixo….