Veneza na Itália

Minha história com Veneza começou na verdade em Roma, eu e um amigo planejávamos uma passagem rápida pela cidade, claro que o lugar merecia mais, mas o orçamento era contado, então a estratégia era pernoitar nos trens, o trajeto Roma pra Veneza duraria uma noite praticamente, e o de Veneza para Viena outra noite, com um pouco de sorte na logística a vontade de conhecer um pouco dessa cidade seria satisfeita.
Então fomos para a ferroviária para já comprar as passagens e veio a surpresa, meu amigo que falava italiano muito bem foi quem tratou com a mulher no guichê, vou passar o diálogo como eu recebi 😃  já traduzido 😃 :
     – Queremos passagens pra Veneza dia tal saindo de Roma e na noite seguinte para Viena saindo de Veneza.
     – Não é possível, senhor!
     – O que quer dizer com não é possível, não há trens nesse dia?
     – Há sim, senhor! Mas choveu!
     – E o que tem a chuva a ver com os trens?
     – Quando chove, senhor, por termos goteiras, os livros de horários molham e molhados se forem abertos, rasgam, por isso não podemos verificar os horários quando chove, pois não podemos rasgar os livros!
     – Mas não há nenhum sistema eletrônico?
     – Sim, há senhor, mas sem a informação do livro, não temos como vender.
Nenhum dos dois sabia se ria ou chorava, ambos estavam morando na Alemanha e lá tudo já era eletrônico, foi (quase) como voltar para um país subdesenvolvido, enfim, sem solução, ficamos mais um dia em Roma.
Passado o aprendizado de onde vinha alguns costumes comuns na terra que cresci, pegamos o trem já próximo do fim do ano, era 28 de dezembro, o trem atrasou, claro, mas depois tivemos uma viagem tranquila, conseguimos até dormir um pouco, mas ocorreu tudo muito bem.
O relógio não tinha ainda chegado às 6:00 da manhã quando desembarcamos em Veneza, era mais um dia frio de inverno, mas não nevava, nem chovia, estávamos com sorte, pudemos caminhar pela cidade com calma, fomos premiados com um belo alvorecer na praça de São Marcos que estava a nossa inteira disposição, o que gerou muitas brincadeiras, afinal quem teria esse privilégio de ver tal praça vazia.
Ainda sobrou tempo pra alguns tours guiados, me lembro bem do castelo dos Dodgers, seu tribunal de inquisição, e toda pompa e sofisticação impressionantes desses lugares que certamente tem um lugar cativo nas histórias de maldade, mas principalmente me recordo de um instrumento chamado “Vontade de Deus”, que foi marcante.
Bem na entrada do tribunal de inquisição havia uma caixa na parede, não era muito grande, em madeira escura ela tinha um buraco relativamente menor que a caixa, mas suficiente para passar com a mão por dentro dele, segundo as explicações do guia, dentro da caixa escorpiões eram colocados e certos acusados obrigados a colocar sua mão lá dentro por alguns minutos, e assim o julgamento era feito. Se picado: Culpado, caso contrário: Inocente, bem simples, era a vontade de Deus. Seres humanos tiveram ideias terríveis na nossa história, não acham?
A tarde na cidade foi bem mais amena, me encantei com becos estreitos que encontrava facilmente nos arredores da praça, como a luz se espreitava neles e a sombra criava ambientes muito interessantes, tudo foi bem tranquilo até seguirmos viagem no trem das 19h em direção a Viena.