O Morro da Igreja hoje pertence ao município de Urubici, mas é um município novo, quando o conheci ainda pertencia a São Joaquim, cidade que também ostentava o título de lugar mais frio do Brasil, além disso o lugar é uma área militar, pois bem ao lado há um CINDACTA, e para chegar ao arco é necessário passar por dentro dessa base da força aérea, enfim, isso parecia um desafio razoável a alguns estudantes que mantinham seu cabelo comprido e haviam sido dispensados do serviço militar.
Claro, havia um mirante, a maioria se contentaria em ir até ali e ver o arco em meio aos penhascos, mas não nós, queríamos chegar ao arco, e assim o desafio entrou pra uma lisa de desejos, ficou lá por um tempo, até que comentamos isso em uma conversa com outros mochileiros que havíamos conhecido no Rio Grande do Sul.
Um dos mochileiros foi logo dizendo que sabia como passar pela base militar e poderia nos legar não precisou oferecer duas vezes, na semana seguinte chegavamos a São Joaquim.
A ideia era simples, esse mochileiro era professor de biologia na Universidade de Santa Catarina e poderia pedir apoio a Universidade para uma visita ao local, claro que poderia levar ajudantes, no caso, nós.
Nosso objetivo era só passar pela base, sem qualquer privilégio, isso era necessário para contornar os penhascos que envolviam o Morro da Igreja, no ano anterior chegamos a ligar ao CINDACTA sondando a possibilidade de fazer isso sem burocracia, não tivemos sucesso, mas ao ver o ofício da universidade, o comandante da base não hesitou um segundo, ordenou acesso total pra todos, e assim, nos dias que seguiram os soldados que guardavam a portaria nos cumprimentavam com continência, e nós realizamos o sonho, chegamos ao centro do Morro da Igreja.
Certamente ele percebeu pela nossas caras e roupas que não éramos biólogos, muito menos pesquisadores, mas deve ter achado ousada a tentativa de passar pelo controle e inofensivos nossos desejos, entrando na brincadeira, além disso acho que ele apostou que não passaríamos de uma noite naquele freezer que era o lugar, mas nesse ponto, superamos as expectativas.
O Arco em si é muito maior que eu imaginava, quase 3 metros de altura na parte vazada, ninguém se atreveu a escalar para cima dele 😃 verão os penhascos ao redor nas fotos, mas ver o mirante do outro lado do vale e o resto do vale foi uma sensação incrível.
Ao lado do Morro da Igreja e menos acessíveis estão as pirâmides, morros meio pontiagudos que lembram as famosas construções, nós também andamos por elas, mas é bem difícil concorrer em termos de importância com o arco da igrejinha 😃.
Para aproveitar a oportunidade única passamos a semana acampados em um bosque bem em frente ao CINDACTA, a água vinha da base, e as árvores ajudavam um pouco a proteger do vento que por lá é poderoso (se descuidar te derruba), mas a fama de lugar mais frio do Brasil não é a toa, pela primeira vez senti frio 24h por dia, não havia roupa que desse conta, quando não estávamos explorando os picos só era possível se acalmar ao lado de uma boa fogueira, com apoio do chimarrão, que aprendi a gostar nessa viagem (certamente ninguém questionará os motivos).
Toda manhã os vigias nos contavam as temperaturas mínimas da noite anterior, era uma gentileza interessante e nos orgulhávamos de passar por noites com -8, -10 graus, eram valores inesperados para o Brasil, foram quatro noites geladas.